1.- A reeleição do Presidente Obama e a tomada de posse do novo Governo dos Açores presidido por Vasco Cordeiro são, pela sua relevância, dois temas incontornáveis.
A vitória de Obama constitui, nos tempos que correm, um sinal de que a maioria do povo americano reconheceu que as propostas defendidas pela direita conservadora, não conduziriam o país e o mundo a um ambiente de paz e de progresso solidário que todos ambicionam.
Enquanto não se descortina uma nova praxis económica que contenha a crescente recessão mundial que até já atinge a China, devido, segundo alguns, ao excesso de austeridade e à redução de salários e de direitos fundamentais, o mundo volta os olhos para o inquilino da Casa Branca, ciente de que algo de novo pode de lá vir para o relacionamento entre os povos.
Não é de admitir que, de um país onde o capitalismo é o fundamento da economia, surjam, de imediato, propostas inovadoras assentes na equidade e na defesa dos direitos humanos, na protecção do ambiente e na sustentabilidade económica. Mas é de esperar que o Presidente dos EUA seja sensível a novas correntes económico-financeiras que ponham termo a conflitos internacionais gerados por problemas humanos de dimensão imprevisível.
Atentos à política da Casa Branca estão os países europeus e muitas personalidades e correntes de opinião que buscam um paradigma económico alternativo, pois o existente já não responde à problemática actual.
2.- Numa América constituída por milhões de imigrantes oriundos das quatro partidas do mundo, há cidadãos oriundos dos Açores eleitos para organismos federais e estaduais na Califórnia, Rhode Island e Massachusets.
Que melhores pontes de contacto poderemos estabelecer para fazer valer os nossos interesses, que esses homens e mulheres cujos pais e avós daqui partiram para engrandecer, com as suas qualidades e canseiras, a maior economia do mundo?
Por que não tirar proveito da sua experiência e “know-how”, nos mais variados domínios: da administração pública à educação, da gestão empresarial às exportações, da saúde à investigação científica, da agricultura às pescas, do comércio ao turismo, da exploração dos mares à tecnologia?...Tanto que há para, em posição de igual para igual, desenvolver parcerias que, ultrapassem as meras visitas rituais e celebrativas e produzam efeitos práticos para o desenvolvimento e bem-estar dos açorianos de lá e de cá!...
Nos últimos dias, a imprensa nacional divulgou o nome de personalidades norte-americanas do mundo do espetáculo, cujos descendentes foram destas ilhas. Mas quantos mais há em actividades empresariais, educativas, científicas e tecnológicas que não regateariam dar o seu contributo, ou mesmo investir parte das suas poupanças ajudando o crescimento desta terra que também consideram sua?
Longe vão os tempos em que os filhos dos emigrantes açorianos representavam mão de obra indiferenciada, trabalhando em “farms”, na construção, ou noutros ofícios mal remunerados.
Os filhos dos nossos compatriotas, como os demais, frequentam também colégios e universidades de nomeada, afirmam-se na sociedade americana e empenham-se na vida das colectividades. Projectam os Açores, identificam-se com a cultura dos seus pais e orgulham-se de ser luso-americanos.
Em tempo de grandes dificuldades para o arquipélago, cabe ao Governo dos Açores abrir-se a novos contributos e à participação da comunidade imigrante dos EUA e Canadá, e dos seus representantes eleitos.
Será, estou certo, uma atitude muito bem recebida do outro lado do “rio atlântico”, pois a nossa dimensão ultrapassa as nove ilhas e engloba também a América do Norte.
Os açorianos que há mais de dois séculos estão em terras do Tio Sam, conhecem bem aquele país. São, por isso, interlocutores previlegiados numa cooperação frutuosa que nos ajudará a ultrapassar as dificuldades criadas a este povo ordeiro, trabalhador, e grato para com as nações que lhe deram guarida em tempos de adversidade.
A eleição de Obama e a tomada de posse do Governo dos Açores têm, naturalmente, muito em comum que deve ser potenciado.
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